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Eu estou sorrindo, e o motivo não é mais você.

Não se culpe. Jamais se culpe por não sentir da mesma forma que o outro. Eu amei demais, eu me entreguei demais e também não me culpo por isso. Eu sou assim, extravagante e exigente, e se não me for suficiente, acaba. Seu amor não foi insuficiente, foi pequeno. Quando é insuficiente não vale a pena, e o nosso amor, enquanto durou, valeu cada segundo.

Saiba que o tempo fará bem para nós dois. Talvez ele me ensine a não querer tanto amor, e te faça demonstrar mais do que o pouco que eu recebi. Talvez ele te mostre que o amor tem que ser livre - quando nos prende, torna-se algo sufocante - e que fazer-se de desapaixonado só desapaixona o outro.

Não é você. Nem eu. São as circunstâncias. Já faz tanto tempo... E o tempo me ensinou algumas lições, e a principal delas foi que saudade é completamente diferente de nostalgia. Saudade é lembrar do que aconteceu e querer tudo de novo, e nostalgia é lembrar carinhosamente do que aconteceu e entender que acabou porque tudo que começa, um dia, acaba. 

Eu diria que essa é a lição mais importante do Sr. Tempo, mas não a única. Ele também ensinou-me que alguns movimentos só podem ser feitos por nós mesmos; que nem todas as pessoas querem o nosso bem; que é necessário atravessar a rua ou mudar a rota para evitar alguns problemas; que não há nada de errado em se permitir estar sozinho, rir da própria piada ou aproveitar a própria companhia; e, por fim, que lá fora só existem pessoas que procuram outras pessoas. 

Obviamente é difícil. Frequentemente a nossa companhia parece vaga, vazia, pouco demais para nós mesmos. Mas, algum dia, vai aparecer alguém disposto à dividir sua pizza conosco, à nos levar no cinema na quarta à noite, à fazer-nos cartinhas de amor e tudo de bom que o amor nos proporciona. Aí essa pessoa nos fará entender que o melhor lugar do mundo não é dentro de um abraço, é dentro da reciprocidade.

Essa pessoa será nosso motivo de muitos sorrisos, assim como você era o meu.

Esse não é um texto para alguém, é um texto de alerta: vai acabar. É muito decepcionante, por isso trabalhe seus sentimentos, tudo que têm início têm também um fim e ninguém fugirá dele. Ele sempre chega calmo, mansinho, e causa um estrago avassalador. Deixa o céu cinza e os pássaros param de cantar. As vezes o céu chega a chorar, até que o universo devolve-nos o sol e traz consigo a bonança do arco-íris.

O maior erro que alguém pode cometer é privar-se do amor por conta de algum que não deu certo. Vai dar. Alguma hora vai, e será nessa hora que você vai ser convidado à dançar com a lua, mas, antes de entregar-se para alguém, entregue-se para si: conheça seu interior, seu prédio de medos e frustrações, suas ruas de amarguras e tristezas, sua casa de felicidade e compaixão. O problema é que a gente projeta o amor como o alicerce da nossa construção, aí ele acaba e a construção desmorona. Amor não é alicerce, não é algo que devemos depender. Guarde isso e compreenda a si mesmo. Aí sim você estará completo, pronto para alguém que te transborde. Aí, caso esse alguém parta, você ainda estará cheio, mesmo que não transbordando.

E, quando esse alguém partir, não guarde ressentimento. Amor acabado tem que se transformar em lembrança boa. Guarde-o como uma daquelas pessoas que a gente guarda com carinho na memória enquanto fazemos alguma viagem - mesmo que o destino não o inclua em hipótese alguma.

Aí você vai entender que felicidade é só questão de você, e que não é necessário um novo amor para curar um antigo; basta amor próprio. Vai amar só quando lhe convém, e não entregar-se para alguém por pura carência.

Aí você estará longe de decepções frustrantes.

E eu só entendi isso agora que a vida já me bateu até eu dizer "chega!". 

E eu me decepcionei muito.

Embora eu já tenha falado que esse texto não é destinado à alguém, decepções me trazem lembranças... e, por falar em decepção, onde anda você?